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  • Foto do escritorMarina Margotti

Diagnósticos

Atualizado: 23 de ago. de 2021



Na busca pela tão sonhada “qualidade de vida” nos deparamos, atualmente, com um conjunto de normas que anseia comandar o que devemos comer, dizer, sentir, como devemos agir, nos portar, quais sinais devemos observar em nosso próprio corpo, entre outros. “Vivemos o tempo da ‘otimização da performance física e mental’, da tentativa de abolir o sofrimento, da recusa dos signos da falta, da incerteza, da imprevisibilidade” (Wendling e Coelho, 2016).


Sendo assim, tudo que flerte com a inadequação, que não se encaixe nesses comandos predeterminados, que não seja produtivo, é automaticamente visto com maus olhos e/ou rejeitado. Rapidamente impelido a responder a partir dos imperativos atuais.


O que vemos hoje em dia com relação ao uso de diagnósticos, não é diferente. Existe uma ânsia por diagnosticar, convocada pela ânsia em ser diagnosticado. Se certificando rapidamente de responder aos imperativos de bem-estar atuais. É um ciclo que a psicanálise busca quebrar, não se interessando em atender essa demanda imediatista de nomear e calar o sofrimento.


É claro que os diagnósticos possuem seu lugar e seu valor no momento de se pensar um caso, entretanto o que observamos hoje em dia, é que em vez do diagnóstico servir para pensar o caso, é o caso que é adaptado ou "mal escutado" para caber no diagnóstico. Logo é prescrita uma medicação e pronto. "Problema resolvido". Nada se pergunta sobre a causa daquele sofrimento. Os diagnósticos dizem por si só, existem sozinhos, antes e apesar dos indivíduos.


Atuam taxando pessoas como "depressivas", "fóbicas", "hiperativas", sem abrir a possibilidade de se questionar a causa individual de cada um, fazendo com que o paciente, na medida em que recebe determinado diagnóstico, se agarre a ele como justificativa para seu sofrimento, de forma superficial e genérica.


Inverte-se a lógica, ou seja, ao se contentar com um diagnóstico que "explicaria" o porque de agir da maneira que traz tanto sofrimento, se perde a oportunidade de se perguntar e se implicar naquilo que faz sofrer, de questionar as formas de agir e, mais ainda, de se pensar quais outras maneiras poderiam ser criadas e repensadas quando se propõe a olhar pra isso.


O diagnóstico passa a ser a causa do sofrimento em si. Se apaga o individual. O que, para aquele indivíduo, é causador de ansiedade, timidez, etc. O foco está em dar ou receber um nome e um remédio, perdendo de vista que: ao se dizer do universal, não se diz do particular de cada um, assim como, ao se dizer do diagnóstico, não se diz do particular do sujeito.


A psicanálise não visa esse apagamento, essa diluição no universal, a generalização da regra, do sintoma comum, e sim dar voz ao que há de singular em cada um, o que diferencia. O traço, naquilo que acompanha aparentemente o mal estar de muitos, que é único, particular. Nesse sentido, não se deixa levar pela tentativa de dar uma resposta rápida e fácil para o sofrimento psíquico, ou de vender uma fórmula mágica com soluções prontas, mas de encarar cada caso como único, abrindo a possibilidade para que cada um possa dizer e nomear seu sofrimento da maneira que mais se aproxima à sua própria verdade.





Referências:

WENDLING, M. M.; COELHO, D. M. (2016) Do “não ceder de seu desejo” ao “bem-

dizer o desejo”: considerações acerca da ética em Lacan. Fractal: Revista de

Psicologia, v. 28, n. 1, p. 139-145.

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